segunda-feira, 8 de maio de 2017

Treze razões para...



O título do post de hoje faz referência à série americana “13 reasons why”, na qual o tema central é o suicídio de uma adolescente.
Decidi assistir à série toda, pois questões sobre o assunto têm sido mencionadas no meu ambiente de trabalho. Sou professora e trabalho com alunos do 9º ano até o Ensino Médio, portanto, adolescentes. Devido ao tema tão forte, assistir à série fez com que eu possa opinar melhor a respeito.
Em minha vida, tive experiências bem próximas com pessoas que cometeram o suicídio. A primeira vez foi quando um amigo de escola decidiu acabar com sua vida, aos 23 anos de idade, porque não conseguia lidar com o fim do seu casamento. A segunda vez foi quando uma vizinha do prédio onde moro que pulou do 6º andar, porque descobriu que tinha Lupus. Esta doença é autoimune, porém é tratável.
Duas questões ficaram bem claras após assistir a série. A primeira é: a que ponto as pessoas podem ser cruéis com outras pessoas, sem se dar conta do mal que fazem? A segunda, qual deveria ser a verdadeira relação entre pais e filhos?
Hannah, a personagem que comete o suicídio, tem pais bem legais, mas o diálogo quando existe um problema é bem difícil, e o mesmo acontece com os demais personagens. Eles não conseguem contar seus problemas aos seus pais, mesmo quando eles se colocam numa posição de querer ajudar.
Por que não podemos ser amigos de nossos pais e vice-versa? Eu já fui adolescente, e muitas vezes eu preferiria me abrir com meus amigos do que com meus pais, devido ao medo da crítica, da punição ou do descaso. Tenho certeza de que você prefere contar seus segredos ou problemas mais cabulosos para seus amigos do que para seus pais, não estou certa?
Quando eu tinha uns nove anos, todos os meus “amigos” da época me agrediram verbalmente, com as palavras mais violentas que eu poderia ouvir. Como eu morava em prédio (ainda moro), eu não podia colocar o rosto para fora da janela que eles me xingavam. Por um tempo eu tive de me esconder no meu quarto para que as coisas se acalmassem. Eu só fui contar o ocorrido para minha mãe quando eu já estava com mais de 30 anos. Na época eu tinha medo da reação dela, então preferi calar-me. Quantas pessoas não fazem o mesmo?
Em uma das palestras que sempre ouço do Gasparetto, ele mesmo fala que os pais deveriam ser amigos de seus filhos, que a repressão, o castigo, a crítica, o descaso ou qualquer outra coisa prejudica, e muito, o desenvolvimento do ser humano. Em muitos casos, somente com ajuda de um profissional para resolver essas questões. Às vezes, nem isso.
Devemos deixar claro que a realidade americana é bem diferente da nossa, e a série mostra bem isso. Para começar a omissão dos diretores da escola em que a Hannah estuda. Eu sou professora, e na escola onde trabalho se um aluno faz algum tipo de bullying, ele ou ela leva suspensão, ou dependendo do caso, o aluno é convidado a sair da escola.
Sabemos que nos EUA muitos estudantes revoltados vão para escola e matam seus amigos e depois se suicidam. Parece até normal, mas não é!
Na letra da música “Jeremy” da banda Pearl Jam, o rapaz vai até a escola e se mata em frente aos seus colegas de classe.
Claro que há muito mais coisas envolvidas nas nossas escolas como assim na série, tais como uso de drogas, bebidas alcóolicas, sexo precoce, estupro etc. Porém, na série, Hannah é uma menina muito sensível a procura de amigos, e em pouco tempo ela sofreu muitas coisas na mão desses “amigos” que ela achava que tinha. Ela só queria ser amada.
O suicídio nem sempre está relacionado à depressão. Claro que quem sofre de depressão pensa na morte o tempo todo, mas qualquer pessoa pode, de repente, cometer o suicídio. Seja por que não sabe lidar com alguma situação, com alguma doença grave, a perda do emprego, a perda da condição financeira em que se vivia, a perda de um ente querido, ciúmes excessivo, uso de drogas e por aí vai. Cometer o suicídio é um ato de desespero. É se ver numa situação da qual não há saída, a única saída é a morte.
Camilo Castelo Branco se matou aos 65 anos porque ficou cego. Ernest Hemingway se matou aos 61 anos devido a problemas de saúde. Robin Willians se matou aos 64 anos também devido a problemas de saúde. No governo Collor, muitos empresários cometeram suicídio porque perderam tudo devido à confiscação financeira da época. Veja que isso pode acontecer em qualquer idade.
Lidar com os problemas do dia a dia é muito difícil, pior ainda quando se enfrenta alguma questão que, a princípio, parece muito complicada, sem solução. Acreditando que a morte resolverá o problema. Em vão.
Segundo o Espiritismo, ao cometer o suicídio, a alma, após a morte, sofre todas as consequências e vive os mais terríveis martírios no mundo espiritual.
Já o Budismo diz que se uma pessoa cometer o suicídio haverá consequências trágicas para sua próxima vida terrena.
Somos seres espirituais que de em quando em quando vivemos uma vida encarnada a fim de crescermos como seres humanos. Por isso a nossa alma não morre, somente o corpo. Então, se cometer o suicídio seu sofrimento não irá cessar, irá até piorar.
Recomendo o livro “Memórias de um suicida” de Yvonne A. Pereira. Apesar da narrativa difícil, o livro explica como a alma fica após o suicídio.
Entretanto, existem religiões que apoiam o suicídio.
Infelizmente, não é possível entender o que se passa na cabeça de uma pessoa, mesmo sob tratamento médico. Sabemos que boa parte dos suicídios são cometidos porque as pessoas não estão bem, nem sempre é porque sofrem algum tipo de agressão feita por outra pessoa.
Repito que o que percebi na série foi a falta de diálogo entre os pais e filhos, e muito descaso por parte da diretoria da escola. Combinação esta que pode ser fatal.
Não tenho ideia dos sinais de um suicida. Em 2010, mesmo fazendo tratamento psiquiátrico, eu tentei o suicídio. Ninguém de casa fazia ideia do que acontecia comigo, afinal, ainda não é possível ler a mente das pessoas, não é mesmo? Na verdade, eu não queria me matar, eu apenas queria dormir por dias seguidos. Eu estava cansada e tomei um pouco menos da metade do Revotril que eu tinha na época. A minha mãe só percebeu o que eu tinha feito quando notou que eu demorava para acordar.
Eu tenho depressão há anos. A ideia do suicídio ronda a minha cabeça sempre. Tem dias que é muito e tem dias que não sinto nada a respeito. O que faço para lidar com isso é contar para minha mãe o que se passa comigo ou rezo. Orar é muito bom, principalmente quando não tem com quem contar. Sou muito a favor da oração seja para o problema que for. Muitas vezes ter com quem conversar não é a melhor solução, pois o outro não sabe o que se passa contigo, e talvez possa até piorar a situação.
Sou a favor de um diálogo honesto e sincero. Ninguém vai matar alguém por dizer que está com problemas. Se sua mãe ou se pai não te ouve, escreva uma carta, só não deixe de dizer o que sente. E se alguém quiser conversar, dê seu tempo para essa pessoa, ela pode estar pedindo sua última chance de viver. Como aconteceu com Hannah Baker.


Boa semana.

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