O título do post de hoje faz referência à série
americana “13 reasons why”, na qual o tema central é o suicídio de uma
adolescente.
Decidi assistir à série toda, pois questões sobre o
assunto têm sido mencionadas no meu ambiente de trabalho. Sou professora e
trabalho com alunos do 9º ano até o Ensino Médio, portanto, adolescentes.
Devido ao tema tão forte, assistir à série fez com que eu possa opinar melhor a
respeito.
Em minha vida, tive experiências bem próximas com
pessoas que cometeram o suicídio. A primeira vez foi quando um amigo de escola
decidiu acabar com sua vida, aos 23 anos de idade, porque não conseguia lidar
com o fim do seu casamento. A segunda vez foi quando uma vizinha do prédio onde
moro que pulou do 6º andar, porque descobriu que tinha Lupus. Esta doença é
autoimune, porém é tratável.
Duas questões ficaram bem claras após assistir a série.
A primeira é: a que ponto as pessoas podem ser cruéis com outras pessoas, sem
se dar conta do mal que fazem? A segunda, qual deveria ser a verdadeira relação
entre pais e filhos?
Hannah, a personagem que comete o suicídio, tem
pais bem legais, mas o diálogo quando existe um problema é bem difícil, e o
mesmo acontece com os demais personagens. Eles não conseguem contar seus
problemas aos seus pais, mesmo quando eles se colocam numa posição de querer
ajudar.
Por que não podemos ser amigos de nossos pais e
vice-versa? Eu já fui adolescente, e muitas vezes eu preferiria me abrir com
meus amigos do que com meus pais, devido ao medo da crítica, da punição ou do
descaso. Tenho certeza de que você prefere contar seus segredos ou problemas
mais cabulosos para seus amigos do
que para seus pais, não estou certa?
Quando eu tinha uns nove anos, todos os meus
“amigos” da época me agrediram verbalmente, com as palavras mais violentas que
eu poderia ouvir. Como eu morava em prédio (ainda moro), eu não podia colocar o
rosto para fora da janela que eles me xingavam. Por um tempo eu tive de me
esconder no meu quarto para que as coisas se acalmassem. Eu só fui contar o
ocorrido para minha mãe quando eu já estava com mais de 30 anos. Na época eu
tinha medo da reação dela, então preferi calar-me. Quantas pessoas não fazem o
mesmo?
Em uma das palestras que sempre ouço do Gasparetto,
ele mesmo fala que os pais deveriam ser amigos de seus filhos, que a repressão,
o castigo, a crítica, o descaso ou qualquer outra coisa prejudica, e muito, o
desenvolvimento do ser humano. Em muitos casos, somente com ajuda de um
profissional para resolver essas questões. Às vezes, nem isso.
Devemos deixar claro que a realidade americana é
bem diferente da nossa, e a série mostra bem isso. Para começar a omissão dos
diretores da escola em que a Hannah estuda. Eu sou professora, e na escola onde
trabalho se um aluno faz algum tipo de bullying,
ele ou ela leva suspensão, ou dependendo do caso, o aluno é convidado a sair da escola.
Sabemos que nos EUA muitos estudantes revoltados
vão para escola e matam seus amigos e depois se suicidam. Parece até normal,
mas não é!
Na letra da música “Jeremy” da banda Pearl Jam, o
rapaz vai até a escola e se mata em frente aos seus colegas de classe.
Claro que há muito mais coisas envolvidas nas
nossas escolas como assim na série, tais como uso de drogas, bebidas
alcóolicas, sexo precoce, estupro etc. Porém, na série, Hannah é uma menina muito
sensível a procura de amigos, e em pouco tempo ela sofreu muitas coisas na mão
desses “amigos” que ela achava que tinha. Ela só queria ser amada.
O suicídio nem sempre está relacionado à depressão.
Claro que quem sofre de depressão pensa na morte o tempo todo, mas qualquer
pessoa pode, de repente, cometer o suicídio. Seja por que não sabe lidar com alguma
situação, com alguma doença grave, a perda do emprego, a perda da condição
financeira em que se vivia, a perda de um ente querido, ciúmes excessivo, uso
de drogas e por aí vai. Cometer o suicídio é um ato de desespero. É se ver numa
situação da qual não há saída, a única saída é a morte.
Camilo Castelo Branco se matou aos 65 anos porque
ficou cego. Ernest Hemingway se matou aos 61 anos devido a problemas de saúde.
Robin Willians se matou aos 64 anos também devido a problemas de saúde. No
governo Collor, muitos empresários cometeram suicídio porque perderam tudo
devido à confiscação financeira da época. Veja que isso pode acontecer em
qualquer idade.
Lidar com os problemas do dia a dia é muito
difícil, pior ainda quando se enfrenta alguma questão que, a princípio, parece
muito complicada, sem solução. Acreditando que a morte resolverá o problema. Em
vão.
Segundo o Espiritismo, ao cometer o suicídio, a
alma, após a morte, sofre todas as consequências e vive os mais terríveis
martírios no mundo espiritual.
Já o Budismo diz que se uma pessoa cometer o
suicídio haverá consequências trágicas para sua próxima vida terrena.
Somos seres espirituais que de em quando em quando
vivemos uma vida encarnada a fim de crescermos como seres humanos. Por isso a
nossa alma não morre, somente o corpo. Então, se cometer o suicídio seu
sofrimento não irá cessar, irá até piorar.
Recomendo o livro “Memórias de um suicida” de
Yvonne A. Pereira. Apesar da narrativa difícil, o livro explica como a alma
fica após o suicídio.
Entretanto, existem religiões que apoiam o
suicídio.
Infelizmente, não é possível entender o que se
passa na cabeça de uma pessoa, mesmo sob tratamento médico. Sabemos que boa
parte dos suicídios são cometidos porque as pessoas não estão bem, nem sempre é
porque sofrem algum tipo de agressão feita por outra pessoa.
Repito que o que percebi na série foi a falta de
diálogo entre os pais e filhos, e muito descaso por parte da diretoria da
escola. Combinação esta que pode ser fatal.
Não tenho ideia dos sinais de um suicida. Em 2010,
mesmo fazendo tratamento psiquiátrico, eu tentei o suicídio. Ninguém de casa
fazia ideia do que acontecia comigo, afinal, ainda não é possível ler a mente
das pessoas, não é mesmo? Na verdade, eu não queria me matar, eu apenas queria
dormir por dias seguidos. Eu estava cansada e tomei um pouco menos da metade do
Revotril que eu tinha na época. A minha mãe só percebeu o que eu tinha feito
quando notou que eu demorava para acordar.
Eu tenho depressão há anos. A ideia do suicídio
ronda a minha cabeça sempre. Tem dias que é muito e tem dias que não sinto nada
a respeito. O que faço para lidar com isso é contar para minha mãe o que se
passa comigo ou rezo. Orar é muito bom, principalmente quando não tem com quem
contar. Sou muito a favor da oração seja para o problema que for. Muitas vezes
ter com quem conversar não é a melhor solução, pois o outro não sabe o que se
passa contigo, e talvez possa até piorar a situação.
Sou a favor de um diálogo honesto e sincero.
Ninguém vai matar alguém por dizer que está com problemas. Se sua mãe ou se pai
não te ouve, escreva uma carta, só não deixe de dizer o que sente. E se alguém
quiser conversar, dê seu tempo para essa pessoa, ela pode estar pedindo sua
última chance de viver. Como aconteceu com Hannah Baker.
Boa semana.
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