Meu nome é Nadege, sou uma das hantans
(responsável) do bloco Morro das Pedras da Comunidade Campeche, distrito Sul da
Ilha. Pratico o budismo de Nichiren Daishonin desde o dia 23 de Setembro de
2003.
Lembro perfeitamente da data, do dia, do momento inesquecível em que isso aconteceu.
Foi na minha primeira reunião, quando recitei o NAM MYOHO RENGE KYO pela
primeira vez, no Bloco Lagoa, Comunidade Ipanema, na CRJ.
Nesses 14
anos de prática tive muitos benefícios conspícuos (Visível; que é visto com facilidade;
facilmente percebido), mas posso dizer que os mais maravilhosos foram os
inconspícuos. Aqueles que são imperceptíveis num primeiro momento, mas que com
o passar do tempo florescem de forma tão extraordinária, que superam nossas
expectativas.
Perdi a minha mãe em abril de 1994 e meu pai em 2002. Vi-me completamente perdida,
nada parecia fazer mais sentido, e como a minha vida parecia não ter mais importância,
comecei a adotar vários comportamentos de risco, pois não me importava se algo
acontecesse. Foi por pura sorte que nunca aconteceu nada comigo. Era nesse
estado de vida que eu me encontrava quando fui à minha primeira reunião.
A primeira vez que eu me sentei e recitei NAM MYOHO RENGE KYO, o efeito foi
imediato e fulminante. Senti uma felicidade muito grande, foi indescritível, na
mesma hora tive consciência de que tinha encontrado algo de valor inestimável,
o que eu queria para a minha vida e o que eu queria para mim.
A partir daquele momento, tudo mudou, pois como recitar NAM MYOHO RENGE KYO
eleva o estado de vida, eu não sentia mais vontade de agir de forma autodestrutiva,
as coisas que me faziam mal foram se excluindo da minha vida, porque eu não
queria mais me destruir. Eu queria ser feliz. Desde então eu realmente passei a
acreditar que devia e podia ser feliz.
Na época eu não sabia, não entendia ainda o conceito de missão, nem como funcionava
a organização, mas sentia um desejo muito grande de participar, de fazer tudo que
eu pudesse devotar minha vida à prática do budismo e também para que as
atividades corressem da melhor maneira possível. Então, não estranhei nem achei
nada demais quando a hantan do meu
bloco me pediu para recepcionar e conversar com todas as shakubukus (pessoas que estão interessadas no Budismo) da DFJ que
chegassem às reuniões e para anotar os nomes e os contatos delas. Eu fazia,
porque eu queria ajudar. Da mesma forma, participava ativamente de todas atividades.
Não fazia ideia de que estava sendo treinada. nem da grandiosa oportunidade que
estava recebendo. Esse início foi extremamente importante, porque me ensinou
que o que move nossa atuação não é o cargo, é a nossa paixão e o nosso coração,
o nosso desejo de concretizar o kosen
rufu (propagação do Budismo no mundo todo).
Tive a boa sorte de receber intenso treinamento na DFJ. Fui dirigente de
bloco, comunidade e distrito, atuei no grupo Cerejeira e no grupo Mamorukai.
Quando chegou o momento de me formar, recebi um grande benefício: ficar um mês
a mais na DFJ para poder fazer parte da primeira turma grupo Ikeda Kayo Kai do Brasil.
Na reunião do Kayo Kai, no dia 17 de janeiro de 2009, cada DFJ do grupo fez um
juramento para o Sensei, nossas determinações para 2030 (ano do centenário da
Soka Gakkai) que enviamos para o Japão.
As minhas determinações foram as seguintes: “Fazer do kossen rufu minha vida, ser um grande valor dentro e fora da
Gakkai. Ter uma família em total harmonia e em Itai Doshin (diferentes em corpo, unidos em mente) com o coração do
Ikeda Sensei e concretizar muitos shakubukus
com meu trabalho.”
Desde então, eu venho lutando para cumpri-las.
Em 2018, vai completar nove anos que encontrei aquela que olha na mesma
direção junto comigo. Tenho uma família em harmonia e em Itai Doshin com o coração do Sensei, exatamente como determinei.
Com relação a segunda parte do meu juramento, acho que cabe citar minha
parte favorita do poema Brasil, seja monarca do mundo! – de Daisaku Ikeda, que
serve de bússola para minha vida profissional:
"Não faz mal que seja pouco, o que importa é que o
avanço de hoje seja maior que o de ontem. Que nossos passos de amanhã sejam
mais largos que os de hoje."
Em 2007, comecei a escrever e a postar num site de literatura lésbica,
usando o pseudônimo de Diedra Roiz. No início, foi apenas brincadeira, só que
comecei a ter um retorno muito grande. Recebia vários e-mails e mensagens de
leitoras incentivando e elogiando meu trabalho, mas também contando sobre a
vida delas e muitas vezes pedindo conselhos e orientações. Toda vez que isso
acontecia, eu ensinava o NAM MYOHO RENGE KYO, enviava um áudio com Daimoku e
alguns textos com princípios básicos do budismo. As leitoras que me procuravam
pedindo ajuda e, as que moravam no Rio eu convidava para ir às reuniões e na
sede. As que moravam fora do Rio, eu procurava um contato onde a pessoa morava
e mandava para uma reunião de lá.
Foi então que me dei conta de que eu tinha uma grandiosa oportunidade, de
abraçar a missão de propagar o budismo através da minha escrita, seguindo os
passos do Sensei, que é um grande poeta e escritor, e conforme o juramento do
Artista Soka do Brasil:
"Fazendo do coração do meu mestre, Daisaku Ikeda, o
meu próprio, eu desbravarei os caminhos da paz e da cultura, abrindo livremente
as asas da criação no palco de minha missão. Eu sou protagonista, bodisatva
artista!"
Atualmente, tenho doze livros publicados e um deles é o que mais parece
tocar o coração das leitoras. Natural que assim seja, pois acima de tudo, é um
romance sobre revolução humana, de transformação através da prática budista.
Com essa história, que agora virou livro, fiz shakubukus em vários lugares do Brasil (a última foi dia 29 de
outubro de2017, em Salvador) e espero concretizar muitas shakubukus ainda. Às vezes recebo mensagem de alguma leitora, que
sequer conheço, dizendo que está praticando ou que recebeu Gohonzon (mandala para a prática Budista) e que conheceu o budismo
lendo “Amor a qualquer Preço” e isso me causa uma felicidade indescritível.
Em outubro de 2010, eu e Eliane nos mudamos do Rio de Janeiro para
Blumenau.
Foi uma resolução baseada em muito Daimoku, mas nem por isso foi menos
difícil, pois eu era hantan do bloco
e mesmo sabendo que tinha uma pessoa maravilhosa pronta para assumir o meu
lugar (e, portanto, minha missão lá estava completa), não é fácil a gente deixar
pessoas com quem temos laços profundos de amizade e afeto. Até porque eu estava
saindo da cidade onde eu tinha nascido, onde estava toda a minha família e
amigos.
Foi um choque cultural muito grande, pois Blumenau é muito diferente do Rio
de Janeiro, tanto em termos de sociedade quanto dentro da organização, pois no
Rio, o distrito Laranjeiras de onde eu vinha, por exemplo, abrange apenas os
bairros Laranjeiras e Cosme Velho, com uma rua central que é a Rua das
Laranjeiras, todas as reuniões ficavam a 10 minutos, a pé, da minha casa. Seria
como se a Avenida Pequeno Príncipe e transversais fossem o Distrito Campeche,
como ainda vai ser. Já o distrito Blumenau na época abrangia a cidade inteira e
parte de Indaial e Gaspar. Tudo era muito longe, uma luta gigantesca, muito
diferente de Rio e SP, que era o que eu conhecia da Gakkai até então. Mesmo
assim, com toda essa dificuldade, a Ana, uma das hantans do nosso bloco, entregava os jornais de ônibus na cidade
inteira. Eu entregava os impressos no Rio, mas era muito fácil, ia caminhando
do kaikan (local para as práticas
budistas) de Botafogo até a minha casa e entregava todos os jornais no caminho.
O exemplo da Ana é que faz com que eu e a Eliane tenhamos o desejo e o prazer
de entregar os impressos do nosso bloco agora aqui em Florianópolis, por causa
dessa hantan maravilhosa, inspiradora
e inesquecível que tivemos a boa sorte de conhecer.
Quando nos mudamos para Florianópolis, nos sentimos imediatamente
acolhidas.
Queríamos muito que alguma de nossas responsáveis consagrasse nosso Gohonzon e a Salete, nossa Tikutan (responsável de comunidade), prontamente
foi, tenho uma gratidão imensa por isso, pois o fato de ela ter nos recebido
com tanto carinho foi importantíssimo para que eu pudesse criar laços com a comunidade,
com o bloco e com a BSGI de Florianópolis. A Vanuza é outra pessoa por quem eu
sinto enorme gratidão, por ter me dado tantas oportunidades de atuar no bloco Trindade,
em especial o teatro que fizemos com as DFS e DFJs do bloco na Reunião de Palestra
do distrito no final do ano passado, é algo que jamais esquecerei. Mais uma hantan maravilhosa que jamais
esquecerei.
Mas assim como a gente não conhece nosso carma, também não conhecemos a
nossa missão. Exatamente no momento em que estávamos super felizes e entrosadas
no bloco Trindade e estávamos com uma determinação de Daimoku familiar,
(durante três meses eu e a Eliane fizemos duas horas de Daimoku juntas todo
dia), o dono do apartamento em que morávamos pediu o imóvel. Começamos a
procurar na Carvoeira (onde morávamos) e na Trindade, mas só encontramos
lugares menores e mais caros do que pagávamos na época e nossa determinação era
encontrar um lugar melhor e pagando menos.
Procuramos pela Florianópolis inteira, Ilha e Continente, perto da sede, em
São José, Palhoça, norte da Ilha, Centro, até que resolvemos procurar no Sul da
Ilha. Desde os anos 90, a Eliane queria morar no Campeche. E foi no Campeche
que encontramos exatamente o que queríamos, pagando metade do que pagávamos na
Carvoeira. Assim que nos mudamos, continuamos participando do bloco Trindade,
mas sabíamos que a transferência seria necessária, pois chegamos a demorar três
horas para chegar à reunião por causa do trânsito e também sabíamos que
precisávamos lutar na localidade em que moramos. Não foi sem sofrimento que
pedimos nossa transferência, era muito amor envolvido, mais uma vez eu me via
deixando pessoas com quem tinha laços profundos de amizade e afeto, como quando
saí do Rio. Mas assim como eu mantenho o contato e a amizade com a família Soka
no Rio, também mantenho com elas, afinal, laços que temos desde a cerimônia do
ar não se desfarão nunca, não é mesmo? Agora, Salete, Vanuza e eu somos companheiras de
Mamorukai (meu grupo do coração!).
Jamais esquecerei a primeira vez que vi a Rosaura, minha butyo (responsável de distrito) maravilhosa,
está fazendo um ano, foi um pouco antes da nossa transferência para o Sul da
Ilha, eu estava na sede com a Eliane e ela se apresentou e nos deu as boas-vindas,
e pode parecer algo tão simples, sem significado, mas significa muito, fez toda
a diferença, pois imediatamente nos sentimos fazendo parte.
Como foi embasada em muito Daimoku, nossa escolha de casa e localidade não poderia
ser mais perfeita. Temos muita boa sorte, pois fomos acolhidas de imediato, primeiro
no bloco Campeche pela Dani G, e não foi fácil sair desse bloco, confesso que não
foi sem sofrimento, mas em nenhum momento pensei em recusar, pois missão a
gente não recusa, está em nossa vida e, quando fomos transferidas eu já tinha
entendido que esse tipo de mudança não é uma perda, muito pelo contrário, pois
só veio a somar, encontrei mais uma família no bloco Morro das Pedras, futura
Comunidade Morro das Pedras.
Tanto que esse ano a Eliane assumiu uma supervisão em Blumenau e ficou
muito tranquila em me deixar sozinha a semana inteira e só vir para
Florianópolis nos finais de semana, pois sabia que eu não ficaria sozinha,
tenho meus amigos da família Soka comigo.
É incrível como na Gakkai a gente
não encontra, reencontra pessoas. Essa é a minha sensação aqui em Florianópolis
e no Sul da Ilha, que eu conheço vocês há muito tempo.
Gostaria de ler um trecho do
agradecimento impresso no meu livro, aquele que faz shakubukus:
“Praticar este
budismo transformou inteiramente a minha vida, que de enevoada e sem foco virou
algo brilhante, colorido, repleto de um tipo de felicidade que eu sequer imaginava
que existia (aquela absoluta, que se encontra em mim), realmente acredito que a
única forma de transformar o mundo em que vivemos é de dentro para fora,
através da mudança individual interior de cada pessoa. Impossível descobrir e
experimentar algo tão magnífico sem desejar compartilhar com todas as pessoas.”
Queria agradecer imensamente a todas do Distrito Sul da Ilha, por sempre
terem sido tão receptivas, incentivadoras e maravilhosas comigo. Especialmente
minha companheira de luta no bloco, Dani Prado, gratidão imensa, amiga, é bom
demais atuar com você!
Eliane pelo apoio que sempre me deu, mesmo antes de ser praticante e membro
da Gakkai. E minhas dirigentes: Ales, Ana Lúcia, Ana Maria, Rosaura e Rita.
Tenho muito orgulho de fazer parte da tropa de elite de leoas do kosen rufu, que é a Divisão Feminina de
Florianópolis!
Encerro meu relato com um poema do meu mestre da vida, o Doutor Daisaku
Ikeda, que trago sempre no meu coração:
“Existe uma única estrada e somente uma, e essa é a
estrada que eu amo. Eu a escolhi. Quando trilho nessa estrada as esperanças
brotam e o sorriso se abre em meu rosto. Dessa estrada nunca, jamais fugirei.”
Três de dezembro de 2017.
*****
Nadege
esqueceu-se de nos contar que, quando seu pai faleceu, ela entrou numa
depressão muito profunda e que o psiquiatra disse a ela que ela não teria como
viver sem os medicamentos. Faz dez anos que a Nadege não usa nenhum tipo de
medicamento para depressão!
Gostou do
relato? Você também tem um para nos contar? Bata enviá-lo em arquivo .doc, com
uma ou duas fotos, que publicaremos aqui.
Os relatos
de experiência do Budismo de Nichiren Daishonin são publicados às
quartas-feiras.
Namastê!
Tânia
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